domingo, 22 de dezembro de 2013

Esse texto é uma contribuição do meu amigo e compadre Marco Antonio Batista.

Ser professor tem que ser por amor.

Existe um bloco de colegas que desaprenderam trabalhar sem reclamar, acreditam que o sofrimento vem de vidas passadas, pra pagar pecados cometidos em outra encarnação... reclamam de tudo: reclamam quando tem aluno e também quando não tem; reclamam por que o feriado cai na terça e não dá pra emendar, reclamam das reuniões pedagógicas, reclamam quando não tem, reclamam quando tem; enfim reclamar faz parte da rotina de muitos.

Quando estava na faculdade, tive uma conversa com um de meus professores favoritos, Ronaldo Passini. 

Entusiasmado com a fantástica atuação daquele senhor que já tinha os seus 70 e poucos anos. Didático como eu nunca vi, organizado, sério, exemplar até na forma de segurar o giz. No fim de uma de suas aulas, como de costume, me aproximei da mesa, ele terminava de preencher seu diário de classe, alguns outros alunos aguardavam pra tirar dúvidas, ele muito perspicaz percebeu que eu queria atenção e me perguntou da vida. Mais do que depressa, com sorriso no rosto fui contando as boas novas, que estava dando aulas numa escola pública.

Seu Passini: Qual o nome da escola Batista?

Eu: Hercy Moraes.

Ele: Eu a Conheci (sempre falando com o seu super português)

Fiquei feliz em saber que a escola já tinha tido professores como ele, de certa forma parecia que eu estava no caminho certo.

Perguntei então: O senhor já foi para aqueles lados (a escola era numa periferia distante dos bairros nobres)

Ele respondeu: Não Batista, não conheço a escola, eu conheci a professora Hercy Morais, lecionei com ela numa escola quando ainda era jovem. Numa escola a 120 km de casa (Campinas).

Indaguei: Mas valia a pena ir tão longe pra dar aulas?

Passini deu um sorriso meio irônico meio saudoso, fez uma pausa como se estivesse lembrando da época, e disse: “Eram bons tempos, com meu primeiro salário comprei um carro zero e ainda sobrou dinheiro pra terminar o mês”.






Percebi naquele momento que tinha decidido ser professor em época errada. Conforme os anos foram passando me lembrava daquela conversa... comecei a trabalhar em uma escola dos padres salesianos, e com o valor de uma hora aula eu saia com a família, comia uma pizza com direito a bebida a vontade e ainda sobrava ... hoje quando conto essa história causo um impacto parecido com a história do professor Ronaldo Passini ... . Com essas e com outras, foi ficando cada vez mais claro que precisa ser por amor.

Sei que as dificuldades são muitas, que e o reconhecimento é pequeno, que a remuneração é incompatível com o quanto se trabalha. Mas isso não é de hoje.

É preciso se colocar a frente de tudo isso.
Novembro 2013
Marcão

Um comentário:

  1. Ola! Meu nome é Sonia Raquel, sou filha do Ronaldo Passini! Obrigada por suas palavras, voce descreveu o jeito do meu pai muito bem! Fiquei com saudade gostosa dele!

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