O que fazer professor?
Acredito que para manter nosso
digno trabalho e indigno salário, precisamos tratar, muito bem, de vender nossa
imagem a todos os envolvidos no processo educacional. Estou dizendo, “vender a
nossa imagem”.
A minha imagem está no olho de
quem me vê; imagem é como as pessoas me veem, e não como eu realmente sou. Em
sala de aula sou extrovertido, conto piada, brinco, converso com meus alunos
sobre política, futebol, religião, etc. “Vendo” uma imagem de ser totalmente
extrovertido. Quando estou estudando, fazendo algum treinamento, fico
desesperado quando o treinador diz que iremos fazer uma dinâmica! Por quê?
Porque na sala de aula estou “vendendo minha imagem”, ou seja, “conquistando”
aquele que me vê! E na dinâmica eu tenho que me expor. Eu não gosto de me expor
para quem eu não conheço ... .
Minha prática de sala de aula,
minhas atitudes no dia a dia de trabalho devem ser balizadas pela “cultura” da
instituição. Meu comportamento (conversas, trajes, comentários, etc.) não devem
ser o mesmo em uma escola confessional – de freira, por exemplo – do que em uma
escola que busca resultados no vestibular única e exclusivamente.
Há certos dogmas que na escola
confessional devem ser registrados. Por exemplo, dava aula, como já mencionei
anteriormente, no Colégio Madre Cecília, todo dia no início das aulas devíamos
fazer uma prece (ou seria oração!?!?). Não era de minha competência discutir a
validade ou não de tal oração, mas sim participar da mesma. Era algo institucional.
A “cultura” da escola irá
determinar a minha imagem a ser vendida.
Quando docente na UNEAL
(Universidade Estadual de Alagoas), em 2011 e 2012, no curso de Licenciatura em
Matemática, sempre dizia aos meus alunos-docentes: “Vocês tem muito mais
chances de ter sucesso no Ensino Básico como professores do que eu!”.
No primeiro momento eles sempre
discordavam: “Professor, o senhor é professor universitário, com especialização
e mestrado, nós ainda somos estudantes. É impossível sermos mais bem sucedido
que o senhor.”
O que eles não entendiam é que
não estava falando de conteúdo, de experiência em sala de aula ou de
experiência de vida. Me referia a comunicação
entre professor e aluno, me referia a “vender a imagem” para conquistar os alunos.
Eles enquanto alunos-docentes
estavam, e estão, mais próximos dos anseios da garotada do Ensino Básico.
Existe uma probabilidade muito maior deles se aproximarem (vender a imagem) dos
garotos do que eu.
Sou professor da FAT, no curso de
engenharia. Vendo minha imagem todo dia. Toda aula. Por exemplo, o assunto da
vez é a Copa do Mundo no Brasil. Sempre que estou na 3ª aula seguida de Cálculo
1 – só quem já passou por isso é quem entende a dificuldade – desvio o assunto
das Derivadas e faço minhas considerações sobre “outros assuntos”: “O Brasil é
o único país em que a Copa não trouxe benefícios de transporte para as cidades
sedes! Além disso, a Folha de São Paulo publicou em 20/04/2014, que as doze
capitais envolvidas no torneio, aumentaram suas dívidas com a União neste período
pré copa.”
Neste momento a sala muda de tom,
os alunos despertam da letargia.
É interessante perceber que
depois da aula, alguns se aproximam para comentar sobre futebol, política,
casamento, olimpíadas, etc. Enfim, acredito que por estar em uma instituição de
ensino particular o aluno pode sim me despedir. Preciso de espaço com o mesmo.
Preciso tê-lo ao meu lado. Para isso tenho que dar uma boa aula, dominar o
conteúdo, me impor em sala de aula, não levar problemas à coordenação, ...,
enfim “matar um leão por dia”, “vender minha imagem” para “sobreviver em sala
de aula”.
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