Há algum tempo atrás, participei de uma reunião
pedagógica gerenciada por um dos coordenadores mais modernos e arrojados com
quem já trabalhei, cheio de idéias, de projetos e de boas intenções.
Em pauta tínhamos a seguinte pergunta: “O que é preciso pra se ter uma boa aula?”
Um professor da antiga, repleto de experiências
profissionais que iam desde gerência de multinacional até proprietário de Bar
noturno em zona nobre da cidade nos tempos em que o charme e as regras de conduta
da boemia mandavam na noite, me ensinou bastante sobre a arte de permanecer
empregado nas escolas particulares.
Mas como ninguém é perfeito, do alto da sua
impaciência adquirida com vários anos de janela acreditando e se decepcionando
com o que acontece dentro da escola, adotou uma postura muito particular para
participar das reuniões... ficava quieto, de corpo presente, observando tudo,
dando a impressão que nem estava lá, e quando as discussões estavam pegando
fogo, com as ideias quase definidas, coordenador quase satisfeito, ele soltava
uma pérola quebrando tudo o que tinha sido discutido. Ele tinha a habilidade de
provocar a sensação que a gente tem quando alguém nos conta o fim do filme
antes que ele se acabe.
O toró de palpites já estava recheado de ideias para
se ter uma boa aula, quando ele levantou a mão pedindo a palavra, e com aquela
calma de sempre disse:
"Para se ter uma boa aula é preciso ter bons
alunos....”
Todos se calaram, com o silêncio arrogante esperando
detalhes mais consistentes da observação, todos quase concordando que o que foi
dito, de tão obvio não era digno de atenção.
Mas ele continuou: “Partindo do princípio de que a
escola tem uma estrutura fantástica, que nós temos os melhores recursos, que o
material didático está sendo bem utilizado e que a coordenação fez boas
contratações e as mantém sob pena de demissão. Entendo que o que precisa para
se ter uma boa aula é que o aluno esteja com o espírito de aprendizagem ligado
no 220V, é preciso que a moçada esteja a fim de escutar o que nós temos para
falar, e quando isto acontecer, deveremos estar prontos com o melhor de nós
para fazer o que a gente sabe fazer”.
Todos se
calaram, o coordenador por que queria que tudo terminasse como ele próprio
havia planejado, alguns professores por que não entenderam, outros por que
sabiam que a nova proposta iria implicar em muita mudança, era um adeus a zona
de conforto... a reunião foi terminando como sempre da mesma forma que começou.
Mas eu estava começando a carreira, prestava uma
atenção danada em tudo e achei GENIAL!!
O velho professor radicalizou, mas estava com a razão.
Estava propondo uma nova linha de trabalho, parecido com as idéias contidas nos
textos de pedagogia, mas que não é linha de ação nas escolas.
Existe uma grande preocupação com novas tecnologias,
com materiais didáticos super estruturados, mas pouco se faz nesta linha de
conquista.
De lá pra cá, 70% da minha energia está voltada pra
buscar conquistar essa vontade de aprender que existe em cada turma, dentro de
cada aluno.
Acho que sempre fiz isso, mas fazia de forma
inconsciente, por amor, ou porque sempre procurei me espelhar em bons
professores. Mas desta data pra frente, conquistar essa vontade de assistir
aula virou premissa, faço de forma profissional, acendo a chama, encanto e o
conteúdo é lenha pra queimar.
Novembro 2013
Marcão (Prof. Marco Antonio Batista)
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