quinta-feira, 29 de maio de 2014

Para uma boa aula...ENCANTAR é preciso? - Prof. Marco Antonio


Há algum tempo atrás, participei de uma reunião pedagógica gerenciada por um dos coordenadores mais modernos e arrojados com quem já trabalhei, cheio de idéias, de projetos e de boas intenções.

Em pauta tínhamos a seguinte pergunta: “O que é preciso pra se ter uma boa aula?”

Um professor da antiga, repleto de experiências profissionais que iam desde gerência de multinacional até proprietário de Bar noturno em zona nobre da cidade nos tempos em que o charme e as regras de conduta da boemia mandavam na noite, me ensinou bastante sobre a arte de permanecer empregado nas escolas particulares.

Mas como ninguém é perfeito, do alto da sua impaciência adquirida com vários anos de janela acreditando e se decepcionando com o que acontece dentro da escola, adotou uma postura muito particular para participar das reuniões... ficava quieto, de corpo presente, observando tudo, dando a impressão que nem estava lá, e quando as discussões estavam pegando fogo, com as ideias quase definidas, coordenador quase satisfeito, ele soltava uma pérola quebrando tudo o que tinha sido discutido. Ele tinha a habilidade de provocar a sensação que a gente tem quando alguém nos conta o fim do filme antes que ele se acabe.

O toró de palpites já estava recheado de ideias para se ter uma boa aula, quando ele levantou a mão pedindo a palavra, e com aquela calma de sempre disse: 

"Para se ter uma boa aula é preciso ter bons alunos....”

Todos se calaram, com o silêncio arrogante esperando detalhes mais consistentes da observação, todos quase concordando que o que foi dito, de tão obvio não era digno de atenção.

Mas ele continuou: “Partindo do princípio de que a escola tem uma estrutura fantástica, que nós temos os melhores recursos, que o material didático está sendo bem utilizado e que a coordenação fez boas contratações e as mantém sob pena de demissão. Entendo que o que precisa para se ter uma boa aula é que o aluno esteja com o espírito de aprendizagem ligado no 220V, é preciso que a moçada esteja a fim de escutar o que nós temos para falar, e quando isto acontecer, deveremos estar prontos com o melhor de nós para fazer o que a gente sabe fazer”.

Todos se calaram, o coordenador por que queria que tudo terminasse como ele próprio havia planejado, alguns professores por que não entenderam, outros por que sabiam que a nova proposta iria implicar em muita mudança, era um adeus a zona de conforto... a reunião foi terminando como sempre da mesma forma que começou.

Mas eu estava começando a carreira, prestava uma atenção danada em tudo e achei GENIAL!!

O velho professor radicalizou, mas estava com a razão. Estava propondo uma nova linha de trabalho, parecido com as idéias contidas nos textos de pedagogia, mas que não é linha de ação nas escolas.

Existe uma grande preocupação com novas tecnologias, com materiais didáticos super estruturados, mas pouco se faz nesta linha de conquista.

De lá pra cá, 70% da minha energia está voltada pra buscar conquistar essa vontade de aprender que existe em cada turma, dentro de cada aluno.

Acho que sempre fiz isso, mas fazia de forma inconsciente, por amor, ou porque sempre procurei me espelhar em bons professores. Mas desta data pra frente, conquistar essa vontade de assistir aula virou premissa, faço de forma profissional, acendo a chama, encanto e o conteúdo é lenha pra queimar.

Novembro 2013
Marcão (Prof. Marco Antonio Batista)

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