segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Neve de Minha Soleira (ou Tirando a Trave do Meu Olho)

Algumas coisas são sempre repetidas, ditas por várias pessoas de várias formas diferentes e muitas e muitas vezes. Sempre me questionei: por que estão repetindo isto novamente? Minha visão era muito estreita e restringia-se ao “meu umbigo”. Eu já tinha ouvido falar “sobre isto” ou “sobre aquilo” várias vezes, porém quantas ainda não tinham escutado sobre o assunto? Impossível dizer!

Uma destas repetições refere-se ao que Confúcio já dizia: “Não se queixe da neve do telhado da casa vizinha, quando a soleira da sua porta não está limpa.”, ou seja, por que antes de querermos mudar o outro, não me preocupo comigo mesmo? É mais fácil acusar o outro por não corresponder a minhas expectativas, do que tentar descobrir quais expectativas o outro tem a meu respeito.

O Mestre Jesus já dizia: “E por que reparas tu na trave que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar a trave do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar a trave do olho do teu irmão. (Mateus 7:3-5)

ou ainda: “E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também.” (Lucas 6:31)

Nas relações profissionais este fato acontece muito com aquele que sempre se coloca como o “sem sorte”, o “perseguido”. Normalmente este individuo não se preocupa em pensar no que a empresa espera dele, sua única preocupação é afirmar para o mundo o quanto ele é bom. Talvez até seja mesmo, mas será que ele está desenvolvendo o que sua empresa espera dele?

O que eu quero do meu aluno? Será que tenho isto bem claro? Se não tenho isto claro, preciso repensar minha atuação profissional, pois como preparar alguém para chegar em um ponto que eu não sei qual é? Quero que meu aluno saiba o conteúdo? Ótimo, e as relações pessoais? E as regras do “bom viver” tanto dentro como fora de sala de aula? Deus abençoe e guarde Paulo Freire onde estiver, pois “Não há docência sem discência”, como ensinar se eu não sei como quero que meu aluno esteja ao final de um período?

O aluno quer um professor de que tipo? Rude? Exigente? Brincalhão? Gentil? Disciplinador? Animado? Sério? O que meu aluno espera da minha pessoa? Difícil saber. Até porque são muitos alunos, e cada um cria uma expectativa diferente em relação ao docente.

Mas eu necessito buscar descobrir o que meu aluno espera de mim. Muitas vezes eles estão perdidos, nem sabem o que estão fazendo sentados ali. Ouvindo-me durante 50 minutos, uma hora, e pensando: “meu Deus, o que estou fazendo aqui.” Isto ocorre tanto no Ensino Básico, como no ensino Superior.

Minhas filhas estão no Ensino Fundamental II (8º e 9º anos). Elas levantam com o celular na mão, já respondendo mensagens que receberam enquanto dormiam; já postando novas informações, repassando outras. O celular vai para a mesa das refeições como o ser mais importante da família. Ter que silenciá-lo, não estou dizendo desligar, por imposição dos Pais Maus é uma afronta. Como o professor lida com isto em sala de aula hoje no Ensino Básico? Sinceramente, não sei ...

Minha esposa leciona no Ensino Superior, no curso de Biblioteconomia da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), e ela sempre tem um acordo com os alunos: se o celular tocar o indivíduo deverá trazer uma caixa de bombons no final do semestre. Funciona para ela este processo, até porque ela foi muito verdadeira sempre com os alunos, pois em uma determinada turma seu celular tocou, e ela levou a caixa de chocolates...


Pronto. Todos os problemas da educação estão identificados: o aluno não quer estudar! Ouço isso direto em sala de professores em todos os níveis. Minha pergunta é: será que o professor quer ensinar? Ou é mais fácil dizer que meu aluno não quer estudar e fim de papo. Será que eu já limpei toda a neve de minha soleira?

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